Desde que a Frente Negra Brasileira se tornou partido em 1935 e lançou seus candidatos, tenta-se chamar a atenção para o fato de que a população precisa eleger representantes negros, comprometidos com a luta do povo afro por cidadania, para ocupar espaços de poder.
A cada nova eleição essa discussão vem à tona e as reclamações e considerações são geralmente as mesmas: diz-se que falta união, faltam projetos comuns, falta a população afro se identificar como comunidade, diz-se que não é necessário eleger caras pretas porque podemos ser representados por outras pessoas e nem sempre um candidato negro está comprometido com a história do povo afro e/ou com a luta antirracista.
Acrescente-se a isso uma justificável indiferença e descrença em relação aos políticos e à política, sentimento que só faz crescer ao longo do tempo, e temos uma cena que se repete a cada nova eleição: exclusão da população negra dos espaços de poder.
Pode-se explicar a ineficácia do voto étnico também por fatores econômicos e sociais, por barreiras historicamente construídas em torno de certos espaços (espaços de poder, mas podemos citar também campos de entretenimento, como o cinema e a TV, e de saber, como, até pouco tempo atrás, as universidades) e que nos mantêm, coletivamente, do lado de fora.
Mas não podemos deixar de constatar um fato: quem não gosta de política é governado(a) por quem gosta, como diz um ex-presidente. Além disso, a guinada política conservadora e fascista que o país vem dando assusta e sabemos que na sua mira está majoritariamente a população pobre e preta. Os índices de extermínio dessa população estão aí para que, lamentavelmente, constatemos isso, assim como os ataques em redes sociais.
Mas ao longo do tempo, alguns afrodescendentes têm conseguido romper essas barreiras e se eleger.
E, felizmente, o Brasil dos últimos anos viu crescer uma juventude negra consciente e empoderada, que sabe que pode e tem capacidade de tomar nas mãos as rédeas de seu próprio destino e isso enche de esperança para que nestas próximas eleições possa surgir algo novo.
Em SP, é interessante observar a candidatura de pessoas oriundas da periferia, do movimento hip hop e movimentos populares, como Douglas Belchior, Shary Laine, Alessandro Buzzo, por exemplo.
Com certeza, isso se repete em várias outras cidades. Resta-nos aguardar para saber se aquele ideal perseguido pela Frente Negra no início do século XX vai ser minimamente alcançado no próximo domingo.
Márcio Barbosa