“Contradição é um outro nome que o amor tem”
(do conto “Veridiana”)
Os livros de Lande Onawale recentemente lançados são obras que nos mostram como a leitura pode ser prazerosa.
Também nos levam a pensar que a literatura afro produzida na Bahia tem tido a capacidade de emocionar especialmente quando fala das relações familiares (um outro bom exemplo disso é o conto de Fátima Trinchão publicado no CN34), sem medo de ser melodramática, de fazer os leitores se darem conta de seus sentimentos e de fazer surgirem também algumas lágrimas, e isso sem perder a capacidade de levar à reflexão.
São dois os livros de Lande: um de poemas, “Kalunga”, que traz o lirismo já conhecido por meio de Cadernos Negros, e outro de contos.
No de contos, chamado “Sete”, o autor nos leva com leveza e habilidade por situações de conflito e revelação entre casais, mães e filhos, jovens amigos, enveredando por alegrias, sonhos, dores…
No conto “Veridiana”, por exemplo, um homem e uma mulher se amam. Eles vivem numa comunidade remanescente de quilombos e moram juntos, mas não conseguem verbalizar seu amor e, por isso, estão à beira de se separar, o que nos leva a imaginar todas as limitações que, desde fora, nos impedem de expressar o amor.
Pode-se pensar também em até que ponto a sociedade limita nos afro-brasileiros essa possibilidade de se amarem, à medida que projeta uma imagem negativa do corpo e da estética negra, da capacidade e do caráter dos afrodescendentes, de sua humanidade, enfim. Há não muito tempo, um verso agitou a mente daqueles que queriam dar forma a certos sentimentos:
“reaja à violência racial / beije sua preta em praça pública”
Não por coincidência, o verso é do próprio Lande, que indica que toda transformação se inicia no reforço de nossos laços afetivos, na expressão dessa afetividade em atos, o que pode exigir coragem.
Um filho, por exemplo, que tipo de relação pode construir com seus pais negros, que tipo de imagem terá deles numa sociedade que estabelece como parâmetro de julgamento o sucesso financeiro, o consumo de bens, e que, ao mesmo tempo, exclui dessas imagens de sucesso e dinheiro aqueles semelhantes a seus pais? No conto “A partida” Lande mostra justamente esse amor que aflora no momento da separação entre uma mãe e seu filho, algo que vem do lugar mais íntimo.
Respeito mútuo e amor pelo semelhante são caminhos importantes apontados pelos contos de Lande e seguem lado a lado, e a família emerge como o território essencial para isso dar certo.
O subtítulo do livro, “diásporas íntimas” não fala não só dessas diásporas do autor, mas do íntimo de todos aqueles que já viveram ou vivem situações semelhantes. É preciso ler para sentir, afinal a literatura tem que comover.
Maiores informações: http://landeonawale.blogspot.com.br