Segundo os dicionários, o conto é uma narrativa breve, contendo unidade de conflito e ação. Muitas vezes também traz unidade de tempo e espaço, e pequeno número de personagens.
O conto é, sobretudo, um texto de ficção, isto é, de invenção, criatividade, elaboração, fantasia.
O conto é diferente da crônica. A crônica é geralmente um comentário sobre um evento cotidiano real e tem finalidade jornalística, de registro imediato. Embora o conto também possa partir de eventos cotidianos, sua trama é sempre imaginada. Assim, no conto constrói-se um universo ficcional e linguístico próprio. Quer dizer, a possível referência ao fato cotidiano se torna atemporal.
Conflito
Outro ponto que difere o conto da crônica é o conflito. No conto, o conflito é central. A construção dos personagens a partir de um conflito é o que faz o conto ganhar intensidade e dramaticidade ou, se for um texto cômico, que traz um falso conflito, ganhar humor.
Mas o que é o conflito? O conflito é o resultado de forças que puxam para lados opostos. Pode se manifestar no desafio colocado para uma personagem, que tem que escolher entre várias atitudes a tomar diante de um fato (por exemplo, optar entre um relacionamento ou a vida profissional, opções que, no texto, podem ser inconciliáveis). O conflito também pode se manifestar em situações extremas (por exemplo, um jovem se vê diante de forças policiais que ameaçam sua vida e ele tem que defendê-la). No primeiro exemplo há um conflito interno da personagem, no segundo exemplo o conflito é externo.
Ação
O conflito solicita uma (ou mais de uma) decisão e ação. Mas os personagens decidem e agem (ou deixam de agir) de acordo com seus sentimentos. Por isso, as emoções em primeiro lugar e a subsequente ação é que fazem o conto progredir. São as motivações, os desafios, os sentimentos das personagens e suas consequentes ações que levam o texto adiante.
Linha fina
Lima Barreto e Machado de Assis eram excelentes contistas e cronistas. E a linha que separa o conto e a crônica pode ser muito fina. Uma diferença importante talvez seja que o conto “mostra” as ações dos personagens assim como ações encadeadas. Além disso, os diálogos podem nos mostrar o que os personagens pensam e fazem. Por outro lado, a crônica “mostra” menos as ações e faz uma reflexão mais linear sobre um fato.
Empatia
A literatura afro-brasileira tem se caracterizado por apresentar situações existenciais que nos permitem, em menor ou maior grau, refletir sobre a questão racial. Às vezes essa questão é central, às vezes ela é parte de um conflito maior. A diversidade de abordagens que levam à reflexão é muito grande.
Não podemos esquecer, porém, que o texto literário não é só feito de gravidade, seriedade. Ele também tem um componente lúdico, de diversão, entretenimento. Esse componente, bem dosado, faz com que o leitor se envolva com o texto, quer dizer, participe, saia de sua vida quotidiana e de sua zona de conforto para “entrar” na vida do personagem. Isso gera empatia, reflexão, emoção, coisas que trazem adesão e são extremamente necessárias.
Embora, no limite, possamos imaginar que o conto, assim como a poesia, é tudo aquilo que a gente considera conto, é importante refletir sobre essas definições que já vêm sendo pensadas em relação a esse gênero literário.
Márcio Barbosa