Carnaval 1
Ao fazermos as entrevistas para o livro Bailes, um dos temas que veio à tona foi a participação cada vez menor dos afro-descendentes no carnaval, seja nos desfiles ou na arquibancada, pelo menos em São Paulo. Conversando com as pessoas no dia a dia, uma das coisas que muitos acham incompreensível é que a comunidade trabalha o ano inteiro e quem vai para os camarotes vips são “midiáveis” ou “personalidades” que nem sempre têm algo a ver ou mesmo gostam de carnaval, assim como quem recebe os holofotes na passarela são as “musas” que sempre ocupam os espaços da mídia. A comunidade, as famílias, o povo que trabalha fica do lado de fora vigiado pelo grande contingente de policiais e seguranças. Resta-nos a tevê e seu olhar enviezado, em que a câmera nos traz a “musa” de sempre em vários ângulos e closes, e passa rapidamente por aquela pretinha linda com muito samba no pé (mas que não vai ser eleita “musa” pela mídia) e que ao lado de outros tantos anônimos é a verdadeira responsável pela continuidade de sua escola.