Recentemente uma polêmica veio à tona relativamente ao livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato. O Conselho Nacional de Educação emitiu um parecer considerando que esse livro tinha termos racistas em relação à personagem Tia Nastácia e recomendava que a editora colocasse um texto para que os professores trabalhassem esse aspecto com os alunos. Logo veio à tona uma polêmica: a de que estaria havendo uma censura a Monteiro Lobato, um clássico da literatura brasileira.
Em primeiro lugar queremos dar os parabéns ao Conselho Nacional de Educação por ter colocado o dedo na ferida e ter tocado num intocável. Não é por que se trata de um autor considerado clássico que o seu racismo não pode ser analisado e denunciado.
Nesse sentido, quem leu Monteiro sabe que ele deve muito às teorias da antropologia racista do século XIX, como mostra o seu livro “Presidente Negro”, uma obra em que aquela pseudociência encontra acolhida.
No entanto gerações e gerações de brasileiros vêm sendo formadas por aqueles estereótipos que aparecem no “Sítio do Pica Pau Amarelo” e em outros livros e nunca se esboçou em relação a isso nenhum tipo de censura.
Aliás, essa questão de censura é dúbia. Por princípio, qualquer censura é abominável, mas vemos livros em que se leem palavrões serem sumariamente condenados, numa atitude que também pode ser considerada censura.
Afinal, até que ponto se pode cercear a liberdade de um escritor ou uma escritora, transgressores quase sempre?
E o que será que fere mais um estudante negro: um palavrão ou um personagem negro ter colado a si o adjetivo “macaco”, por exemplo?
Monteiro Lobato continuará a habitar o imaginário das crianças por muito tempo, a julgar pela reação da mídia conservadora e das classes que ela representa, mas já é hora de exigirmos mais respeito na forma de livros que retratem sem estereótipos personagens afrodescendentes, e nisso a literatura afro tem trazido sua importante contribuição: os autores afro-brasileiros, especialmente os contemporâneos, têm procurado elaborar personagens dignos.
Valorizar livros com esse teor seria uma forma de contemplar a diversidade, a exemplo do que faz a Prefeitura de Belo Horizonte, considerada um modelo, pois procura oferecer aos seus alunos livros que lidam com a nossa diversidade étnica. O país tem muito a agradecer a iniciativas como essas.
Que nesses novos tempos que se anunciam para o Brasil, com uma mulher sendo eleita presidente (uma prova de que algumas coisas podem mudar, algo que a eleição de Obama já tinha mostrado), que nesses novos tempos possa haver mais espaço para o sonho e a esperança.
Axé!
Quilombhoje Literatura