Um dia depois do Dia Internacional da Mulher, lemos a notícia da ida de Alda Espírito Santo para o orum. Guerreira de São Tomé e Príncipe, lutou pela independência de sua terra natal e teve participação ativa no pós-independência, chegando a ser ministra da educação.
Contemporânea de Amílcar Cabral e Agostinho Neto, embora seja poeta de língua portuguesa ainda é pouco conhecida no Brasil fora do círculo dos estudiosos, mas o som universalista de sua poesia com certeza vibra no coração de cada um dos que a leem. Abaixo um dos seus textos:
EM TORNO DA MINHA BAÍA
Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrentes
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigada por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num vôo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições:
HUMANIDADE